sábado, 20 de dezembro de 2008

Carência


Nunca imaginei ver meu pai se esvaindo em uma cama de hospital. Em nada ele lembra aquele homem forte, antenado em tudo e em todos de dias atrás. Antes ele lia os três jornais diários, comentava todas as notícias, ia na padaria e na farmácia, apesar de estar no alto de seus 80 anos. Agora, jogado em uma cama, definhando a cada instante, lutando pela vida, mas sem muita força para enfrentar essa luta.
Ontem, entre um delírio e outro por causa dos medicamentos, ele me disse que estava pronto para morrer feliz. As duas filhas são inteligentes, cultas e trabalhadoras. "Acima de tudo, honestas", disse. Ele se gabava de ter deixado o exemplo de retidão, caráter e honestidade. Preocupou-se em dar estudo, amor, atenção e conseguiu.
Vi e continuo vendo nesses 12 dias de hospital, que outros idosos são relegados à própria sorte. Pessoas que passam ficam com dó. Geralmente, filhos preocupados com outros afazeres jogam seus pais em asilos e quando estão internados, nem os acompanham. Meu pai não pode falar isso. Deu tanto amor, dedicou-se tanto, foi pai em tempo integral e avô amoroso, que todos em casa fazem questão de acompanhá-lo. Todos estamos sofrendo muito, mas sabemos que ele, ficando ou indo, precisa de nosso apoio e amor incondicional.

Nenhum comentário: