sábado, 12 de maio de 2012

Meus dez amigos

Ouvir aquela música, passar na porta de um lugar em que já estive, um filme, um livro, fotografias. Algumas coisas que me fazem lembrar, com um aperto no coração, dos dez amigos que já partiram.Meu Deus, já são dez!
Os que sinto mais falta e isso me dói como a um espinho na carne: meus pais. Como ela era culta e carinhosa. Sempre dizia "Dalfa!" quando erravam seu nome. Ria de minhas palhaçadas - e não eram poucas.
Meu pai, grande Edgar! Sua sinceridade, sua honestidade, sua grandeza. Como faz falta. Culto, compenetrado, dedicado. Tão difícil encontrar alguém com tais qualidades, todas juntas... Ele as tinha.
Partiram e me deixaram sem chão, sem prumo.
O único defeito desses que foram meus melhores amigos é não terem me ensinado como é que a dor passa. Essa dor de perder amigos é pior do que não tê-los.
E ao longo desses 45 anos, já juntei 10 que partiram.
Meu primo Salminho, grande amigo de infância, foi o câncer que levou. Aos poucos, com bastante sofrimento. Doeu demais. Se foi...Fiquei menor...Ficou seu "Franguinho na Panela". kkkkk
Ester, amiga de faculdade, morta tão nova por causa de suas decepções. Fiquei chocada com sua ida. Foi muito cedo, no início da vida profissional.
Meu primeiro amigo no POPULAR foi o grande Luiz Gerci de Araújo. Engraçado, ranzinzo, gostava de uísque e salaminho. rs. Sempre íamos um na casa do outro. Jogávamos sinuca. Adorava! Morreu do coração na porta do Serra Dourada. Toda vez que ouço "Sampa" lembro de um aniversário dele em que Donizete e eu cantamos a música prá ele. Foi até afinado. Ele amou!
Amir Sabag, que tirou a roupa em um aniversário meu em casa para mostrar seus músculos prá minha mãe, quase a matou de falta de ar depois de uma crise de risos. Como eu gostava do Amir! Morreu do coração! Lembro de suas histórias que parecem piada...
Rainha, um gay da Vila União, onde o Walter morava quando ainda namorávamos. Rainha me amava. Saíamos juntos e nos divertíamos muito. Foi um choque seu assassinato. Crime de intolerância! Absurdo!
Velho Loris, meu amigo... "Essa desgraça tá te tratando bem?", perguntava sempre. Um desastre no Centro tirou de nós o mais brilhante repórter-fotográfico que já tive a honra de conhecer. Sem paciência, mas engraçado, Lorisvaldo de Paula, o Negão. Vejo seu semblante até hoje naqueles corredores da OJC.
Todos me deixaram menor. Jorge Moreira, delegado do primeiro time, como Euler Belém costuma dizer, deixou um vazio grande no meu coração. E
ra amigo prá qualquer hora. Um desabafo, uma piada, uma história intrigante, um livro interessante, tudo era motivo para conversarmos a qualquer hora. E quando tinha um crime de repercussão?
Era Jorge que me acordava já no meio da conversa. "Rosana, não tem jeito não! O mundo acabou mesmo. Não há de ver que..." kkk. Eu ficava furiosa com ele e dizia. "Jorge, não sei do que está falando. Estava dormindo!"
Sentirei tanta falta disso! Morreu de forma tão estúpida! Dias antes, na pracinha das especializadas me deu um abraço tão forte que fiquei com o braço doendo por alguns dias. Na quinta-feira, quando esperávamos o helicóptero com o preso e o dr. Antônio Gonçalves (a quem gostava muito também) e a dra. Adriana Accorsi, Jorge me chamou de jeca depois que confessei não ter coragem de andar de helicóptero por não me sentir segura. "Imagina! Uma mulher tão culta e tão jeca!". Jorge se foi! Que dor!
Meus 10 amigos, tenho certeza, contam suas histórias agora em ruas de ouro, em um lugar onde não há dor e nem tristeza. Espero em Deus que isso seja verdade. Fiquei menor ainda com mais uma perda...

Rosana Melo - 12/05/2012

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