sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Rotina

Cresci vendo meus pais trabalhando duro para nos dar o necessário para uma vida digna. Minha irmã e eu nunca passamos por dificuldades graças ao esforço dos dois. Eram pais que, mesmo trabalhando o dia todo, eram muito presentes em nossas vidas e sonhavam em nos dar tudo o que eles não puderam ter. A diferença grande de idade entre minha irmã e eu fez com que ela fosse uma adolescente solitária. O mesmo aconteceu comigo depois. Nos tornamos amigas quando adultas.
Sempre tive dificuldade em fazer amizades e de conhecer coisas novas. Minha infância e adolescência foi toda dedicada à família e aos estudos. Conheci gente nova apenas na faculdade, mas logo veio o casamento, filhos e o divórcio. Passei a estudar, trabalhar e a cuidar das minhas filhas. Fiquei ainda mais reclusa. Casei novamente e a dificuldade em fazer amizades aumentava a cada minuto.
Aos poucos, com as filhas já crescidas, que notei que a família se afasta da gente, que a coragem de se aventurar pela vida passa e nos tornamos mais caseiros. No meu caso, que sempre estive enclausurada, isso significou alívio e desespero. Tudo em minha vida valeu a pena, mas será que tinha mais alguma coisa a ser feita? Nunca vou saber.
Os poucos amigos que fiz, já depois de adulta, conquistei por causa do meu trabalho. As conheci trabalhando, convivendo com elas e aprendendo a lidar com essas descobertas. Mais que isso, gostando do que descobri. Só gostaria que meus amigos entendessem que nem sempre estou disposta a sair e que geralmente não consigo travar diálogos intensos com pessoas que acabei de conhecer. Outra coisa: antes de quebrarem minha rotina, estejam certos de que podem aturar meu péssimo humor. A rotina me acalma e me conforta.

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